terça-feira, 20 de agosto de 2013

Crônica.

        Olá queridos alunos
        
Vamos à nossa segunda atividade com o gênero crônica. Após pesquisar o que é crônica‚ onde ela é publicada e o que‚ geralmente‚ serve como tema‚ vamos analisar 3 crônicas do autor Luís Fernando Veríssimo. A primeira delas é uma crônica chamada “Brincadeira”. Após a sua leitura‚ vá até a aba “Vídeos” e acesse uma animação produzida com base nessa crônica. Em seguida‚ responda as questões propostas relativas ao texto “Brincadeira”.
 
 
BRINCADEIRA
Começou como uma brincadeira. Telefonou para um conhecido e disse:
— Eu sei de tudo.
Depois de um silêncio, o outro disse:
— Como é que você soube?
— Não interessa. Sei de tudo.
— Me faz um favor. Não espalha.
— Vou pensar.
— Por amor de Deus.
— Está bem. Mas olhe lá, hein?
Descobriu que tinha poder sobre as pessoas.
— Sei de tudo.
— Co-como?
— Sei de tudo.
— Tudo o quê?
— Você sabe.
— Mas é impossível. Como é que você descobriu?
A reação das pessoas variava. Algumas perguntavam em seguida:
— Alguém mais sabe?
— Outras se tornavam agressivas:
— Está bem, você sabe. E daí?
— Daí nada. Só queria que você soubesse que eu sei.
— Se você contar para alguém, eu...
— Depende de você.
— De mim, como?
— Se você andar na linha, eu não conto.
— Certo
Uma vez, parecia ter encontrado um inocente.
— Eu sei de tudo.
— Tudo o quê?
— Você sabe.
— Não sei. O que é que você sabe?
— Não se faça de inocente.
— Mas eu realmente não sei.
— Vem com essa.
— Você não sabe de nada.
— Ah, quer dizer que existe alguma coisa pra saber, mas eu é que não sei o que é?
— Não existe nada.
— Olha que eu vou espalhar...
— Pode espalhar que é mentira.
— Como é que você sabe o que eu vou espalhar?
— Qualquer coisa que você espalhar será mentira.
— Está bem. Vou espalhar.
Mas dali a pouco veio um telefonema.
— Escute. Estive pensando melhor. Não espalha nada sobre aquilo.
— Aquilo o quê?
— Você sabe.
Passou a ser temido e respeitado. Volta e meia alguém se aproximava dele e sussurrava:
— Você contou pra alguém?
— Ainda não.
— Puxa. Obrigado.
Com o tempo, ganhou uma reputação. Era de confiança. Um dia, foi procurado por um amigo com uma oferta de emprego. O salário era enorme.
— Por que eu? – quis saber.
— A posição é de muita responsabilidade – disse o amigo. – Recomendei você.
— Por quê?
— Pela sua discrição.
Subiu na vida. Dele se dizia que sabia tudo sobre todos, mas nunca abria a boca para falar de ninguém. Além de bem-informado, um gentleman. Até que recebeu um telefonema. Uma voz misteriosa que disse:
— Sei de tudo.
— Co-como?
— Sei de tudo.
— Tudo o quê?
— Você sabe.
Resolveu desaparecer. Mudou-se de cidade. Os amigos estranharam o seu desaparecimento repentino. Investigaram. O que ele estaria tramando? Finalmente foi descoberto numa praia distante. Os vizinhos contam que uma noite vieram muitos carros e cercaram a casa. Várias pessoas entraram na casa. Ouviram-se gritos. Os vizinhos contam que a voz que se ouvia era a dele, gritando:
— Era brincadeira! Era brincadeira!
Foi descoberto de manhã, assassinado. O crime nunca foi desvendado. Mas as pessoas que o conheciam não têm dúvidas sobre o motivo.
Sabia demais.
Luís Fernando Veríssimo. Comédias da Vida Privada. Porto Alegre: L&PM, 1995, p.189-91)
 
Análise do Texto “Brincadeira”
1.  Copie a alternativa correta: O texto “Brincadeira” pertence ao gênero:
(     ) fábula‚ pois apresenta uma moral‚ um ensinamento no final do texto.
(     ) conto maravilhoso‚ pois narra fatos extraordinários‚ de encantamento.
(    ) crônica‚ pois narra fatos banais do cotidiano e pretende refletir e/ou divertir.
(     ) notícia‚ pois relata fatos reais do dia a dia.
 
2.  Que tipo de narrador encontra-se no texto “Brincadeira”. Retire um trecho do texto que confirme sua resposta.
 
 
3.  Qual é o tempo do enredo do texto “Brincadeira”? Lembre-se: O tempo é o período de duração da história‚ quanto tempo você acha que durou a história da crônica?
 
 
4.  Qual é o principal espaço em que ocorrem os fatos dessa crônica? Lembre-se: O espaço é o lugar onde a história acontece.
 
 
5.  A crônica “Brincadeira” é constituída quase que na sua totalidade por diálogos entre o personagem principal e suas “vítimas” Com quantas vítimas ele conversou durante todo o enredo da crônica?
 
6.  Pesquise no dicionário on-line da Língua Portuguesa o significado das seguintes palavras.
a)    Reputação.
b)   Discrição.
c)    Desvendar.
d)   Impostor.
 
7.  De acordo com a definição da palavra “impostor”‚ você diria que o texto narra a história de um impostor? Por quê?
 
8.  Todo texto narrativo apresenta uma personagem principal, à qual se dá o nome de protagonista. Quando há uma personagem que se opõe às ações e aos interesses do protagonista, ela é chamada de antagonista. No início do texto, vemos que o protagonista “Descobriu que tinha poder sobre as pessoas”.
a)  O que as pessoas temiam?
 
b)  Copie qual dos itens seguintes traduz o tipo de poder que supostamente o protagonista tem?
(     ) poder econômico          (      ) poder político         (     ) poder da informação
 
 c)  Copie qual das frases abaixo confirma sua resposta anterior?
(     ) “Sei de tudo”
(     ) “Daí nada. Só queria que você soubesse que eu sei.”
(     ) “Se você andar na linha, eu não conto.”
 
9. Graças ao “silêncio”, o protagonista ocupa cargos de confiança e “sobe na vida”. Até que um dia as coisas mudam.
a)  Copie qual dos ditos populares a seguir traduz a nova situação vivida pelo protagonista.
(     ) Antes tarde do que nunca.
(     ) O feitiço virou contra o feiticeiro.
(     ) Os últimos serão os primeiros.
 
 b)  No caso das vítimas, desconhecemos o segredo que elas guardavam. Contudo, no caso da protagonista, sabemos qual é o seu segredo. O que supostamente é o “tudo” mencionado pela “voz misteriosa”?
 
 c)  O protagonista tem poder sobre as demais pessoas porque supostamente tem informações sigilosas sobre elas. Contudo, a partir do momento em que ele se torna vítima de sua própria “brincadeira”, quem passa a dominar quem?